quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Convivendo com o Autismo: Com o que se preocupar? Uma visão responsiva e não comportamental!



Gosto daquela história em que o professor ensina aos alunos como fazer caber um total de pedras dentro de um recipiente. Se colocarmos as pedras pequenas primeiro, as grandes não caberão, mas se fizermos o contrário, todas as pedras caberão. E assim ele conclui a história comparando as pedras com os problemas da vida, primeiro resolvemos os grandes e deixamos os pequenos para o final.

No autismo eu considero alguns comportamentos das crianças como as pedras pequenas e outros como as pedras grandes. Ouço bastante as seguintes frases de minhas amigas mães:

“Meu filho ri, dá gargalhadas, do nada, parece estar bêbado”.

“Julinho repete a mesma frase o dia inteiro”.

“A Luciana brinca com a própria saliva”.

“Ai Meu Deus! Esse menino só vive rodopiando!”

E sempre vem a busca pela causa:

“São os streptococcus multiplicados e enlouquecidos!”

“Oh não! Cândidas novamente!”

“Céus! São carboidratos não digeridos corretamente. Fermentaram! O álcool resultante está deixando o menino como bêbado!

“É que seu filho precisa de mais horas de brincadeiras interativas para livrar-se do tédio.”

Meus anos de experiência como mãe na causa me mostraram que esses comportamentos são pedras pequenas. Não vale a pena investir tanto pensamento de preocupação, porque são comportamentos abundantes, recheados de prazer e filtros ambientais que nossos filhos precisam e gostam de praticar. Muitas vezes as cândidas permanecem e os comportamentos desaparecem. Sim, desaparecem, ou algumas vezes são substituídos por outros. Mas desaparecem quando a gente menos espera, principalmente quando MUDAMOS O FOCO DO INCÔMODO, já que os meninos estão curtindo o momento e nós...por que será gente?...queremos cortar o barato deles. São pedras pequenas, acreditem e sigam felizes!

Ah, mas então mãe “louca-zen”, o que afinal são as pedras grandes?

Tudo que impede essas crianças de manifestarem grandemente sua presença na vida interativa. Juquinha ri do nada como um bebadinho, mas adora andar de bicicleta com seu irmão. Isso é vida interativa dentro do autismo.

“Toda vez que vou ao Shopping no sábado às 4 da tarde com o Fredinho ele tampa os ouvidos o tempo todo e às vezes chuta uma pessoa assim do nada.”

Engraçado, na mesma situação eu também tenho vontade de fazer igual ao Fredinho. Mães, minhas queridas, não sejam vocês mesmas as pedras grandes, percebam sensivelmente que nem todos com autismo encontram-se no momento aptos para encarar um “shopis-centis”.

Voltando as pedras grandes: Tampar os ouvidos sofrivelmente devido aos barulhos. Percebam, é sofrivelmente! Nem todo menino que tampa os ouvidos encontra-se necessariamente em sofrimento sonoro. Mas se sofre isso deve ser trabalhado corretamente até que essa nobre pessoa consiga interagir com o ambiente externo.

Bater, chutar, dar socos pra valer e que machucam sempre quando se sente contrariado. Pedra grande. Comportamento que precisa ser trabalhado (gentilmente, amorosamente, respeitosamente e com bom senso) nas grandes metas.

Na inclusão escolar: tocar excessivamente os genitais perto das outras crianças, ficar nu. É pedra grande nessa situação. A reflexão a ser trabalhada com a criança é: eu sei que você gosta de fazer assim, mas na escola nenhuma pessoa fica nua na frente das outras, mas tudo bem se você ficar nu ou se tocar em casa, na escola você pode escolher outras formas também prazerosas de agir e ficar bem com todos ao seu redor.

Inabilidade de comunicação mais clara e efetiva: Sem palavras, sem escrever, sem comunicação facilitada, sem PECS, só no puxa-puxa pra mostrar as coisas, nem uma apontadinha com o dedinho. Mamães, eles são tão capazes nesse setor! Vamos arregaçar as mangas e colocar esses meninos para se comunicarem. Pedra grande sim senhora!

Só fica vendo TV ou DVD, só come pasta de amendoim com pão, não faz nada o dia todo a não ser ir de um lado para o outro sem propósito: Rocha! Grandona! Cadê os estímulos à socialização? Cadê a disciplina geral? Com amor a gente educa, firmeza com amorosidade!

“Ah, mas é relativo! Essa pedra pequena aí que você fala na minha família é pedregulho”.

Bom, se você tem tanto tempo assim disponível para investir tentando solucionar as inúmeras e incontáveis borboletinhas que seu filho que tem autismo faz enquanto olha para o ventilador girando...tem? Então deixa pra lá. Não significa que não será dada uma atenção a cada comportamento “pedra pequena” específico. Vamos olhar para as grandes pedras que inviabilizam a interação social. Vamos investir nosso tempo nelas.

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