E então Lorenzo fez nove anos de idade.
E já se foram sete anos desde que soubemos que ele pertencia
ao tal do espectro do autismo. Sem dúvida passa rápido o tempo!
Sim eu vou
confessar que aos nove anos eu imaginava que praticamente todas as coisas
referentes ao autismo do Lorenzo já estariam resolvidas. Igual àqueles vídeos
bonitos que a gente assiste dos meninos que aos três, cinco anos estão isolados
e cheios de características autísticas desafiadoras, mas que aos nove, dez, ah
sim, eles mesmos estão dando o depoimento diante as câmeras: “ah, agora eu
tenho muitos amigos, vou para a escola, jogo basquete, ganhei o prêmio do
melhor aluno do ano, continuo com um Q.I. de gênio e tenho um futuro promissor!”
Aí toca aquela música impactante de fundo, mostrando as famílias felizes com o
slogan final: “Sim, é possível, siga o seu sonho, acredite!” Já viram esses
vídeos que fazem escorrer lágrimas de esperança enquanto apertamos o botãozinho
“eject” e depois “off” do DVD player? Que bom que coisas assim podem acontecer
não é mesmo?
Mas o que aconteceu ao longo do tempo foi e tem sido muito
mais valioso do que o “vídeo dos recuperados do autismo”. É fascinante ver o
Lorenzo crescendo forte e aprendendo a lidar com o meio a sua volta.
Simplesmente um menino tornando-se um pequeno guerreiro que lida bravamente com
suas questões sensoriais ainda em desequilíbrio para fazer parte do mundo da
melhor forma que ele consegue.
Passo a passo, desordenadamente, mas em
concordância com uma lógica que lhe diz respeito, ele faz suas conexões, cada
vez mais brilhantes, com o universo a sua volta. E eu, a mãe, me livrei daquela
pressão que nos é imposta nos primeiros anos: “Cure-o!” É muito melhor hoje,
com nossa história já amadurecida e desprendida, olhar para o menino e dizer: “Seja
simplesmente você a cada dia e eu estou aqui para caminharmos juntos rumo ao
seu progresso, lhe ajudando em tudo o que for possível.” E lá vamos nós,
acreditando nas possibilidades, compreendendo o continuum entre o existir e o
manifestar da personalidade plenamente, sem questionar em que tempo cada coisa
irá acontecer.
Cada caminho é único e incomparável embora insistamos no
contrário e tentamos buscar esperanças em um caminho que deu certo para alguém.
No mundo dos que lidam com o autismo isso é uma constante, mas é também um erro
que se corrige quando é transformado em aprendizado. Ahmm? Pois bem, temos um
protocolo "X" que funciona para um, mas que para funcionar para outro algo tem
que ser modificado porque esse outro tem um caminho único. Mas normalmente o
que se tem é: opa, protocolo "X" é bom,
cadê o manual, vou seguir a risca, nossa, esse trecho aqui é bom demais, vou
botar lá na rede social para todo mundo fazer também. Quando o aprendizado
se manifesta, as coisas mudam assim: conheço
meu filho, conheci o protocolo "X" que é bom, mas esse protocolo só vai me ajudar
no que é mencionado nos parágrafos 37 e 41 e creio que uma adaptação no
parágrafo 23 também é útil, o restante não serve, logo não preciso investir meu
tempo e tampouco meu dinheiro na íntegra do protocolo "X".
Que papo é esse? Simples. Nós e o Lorenzo, pais e filho,
representamos de certa forma sete anos no futuro de quem lida com o autismo há
pouco tempo. Muito distante de sermos os reis da cocada preta, apenas já
caminhamos em trilhas que muitos ainda irão percorrer, encontramos uma incrível
variedade de informações, enigmas, pistas e sugestões de respostas para o
Lorenzo.
Querem um atalho? Não usem para seus filhos o mesmo que usamos para o
Lorenzo, ou o que foi usado pelo Pedro, pelo Guilherme, pela Marina, pela
Clara, pelo Eduardo em seus caminhos. Mas aprendam sobre o que foi feito,
pesquisem, questionem, conheçam seus filhos e filtrem. Não tenham medo de
filtrar bastante toda a amplitude de informações que chega até vocês. E fiquem bem
quando sentirem que não foi possível naquela hora, naqueles dias ou naqueles
dois anos encontrar exatamente o que precisa ser feito.
Cada caminho é único, e
cada encontro de soluções pertence a um ponto em um momento que não podemos
determinar. Mas podemos buscar a força da crença, também conhecida por fé, de
que esse momento certamente existe.
Mas eu já disse que o Lorenzo fez nove anos de idade?
Inteligente, lindo e primoroso em sua unidade que o reintegra em sua perfeição
designada por Deus. Sábio, companheiro, falante de seu jeito, musical,
tranquilo, espirituoso, piadista quem diria (com uma sutileza que só quem o
conhece que sabe interpretar) e cada vez mais conectado aos ritmos e melodias
da imensidade da música.
E eu, a mãe, só aprendendo. E o pai também.
Que orgulho temos de você Lorenzo! Que gratidão sentimos por
você existir.
Somente quem conhece o Lorenzo e sua magnífica mãe para dizer quão verdadeiro é cada palavra desse texto... Lorenzo, você é demais!!! E para essa super mãe não tenho palavras para expressar o orgulho que tenho de ser sua amiga...
ResponderExcluirOlá Aurea, obrigada por partilhar sua experiência, tão iluminada com a gente. Estou começando esse caminho. Um forte abraço. Marcia.
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