Esse aniversário foi todo diferente, foi feito na sessão de
musicoterapia com Clarisse e André. E os convidados do Lorenzo eram seus
amiguinhos da tribo do autismo. Nada convencional, os meninos, é claro,
quebraram todas as regras de um aniversário comum, um surrealismo
divertidíssimo.
Paralelo aos acontecimentos do Programa Son-Rise, no Rio de
Janeiro, eram dados passos importantes na divulgação do tratamento biológico
para o autismo. Já existia um grupo composto por pais e familiares que também
buscavam inovações para cuidar de suas crianças. Havia uma mãe brasileira que
vivia nos EUA e que auxiliava esse grupo enviando as mais recentes informações
e contatos. Eram pessoas batalhadoras e esforçadas que não queriam dormir no
ponto de jeito nenhum e em breve eu conheceria esse poder pessoalmente. Existia
em Niterói a ADEFA (Associação em Defesa do Autismo) que já tentava dar um
suporte mais inovador do tratamento do autismo para quem procurava ajuda.
Surgiram os primeiros seminários que abordavam o tratamento
biológico. Pela primeira vez os pais estariam mais interados a respeito das
questões intestinais, as intoxicações por metais pesados, os quelantes, as
dietas com restrições principalmente de glúten e caseína, as suplementações, as
mega-doses de vitaminas, os minerais e tanta coisa nova...e tanta coisa cara!
Os grupos de discussões na internet uniam essas pessoas com
a fonte do conhecimento aos outros pais e profissionais do país inteiro
formando uma rede fantástica de troca de informações.
A quantidade de profissionais que entendem de autismo começa
a crescer timidamente. Primeiro o Programa Son-Rise, ou simplesmente suas
técnicas amorosas e responsivas passa a ganhar simpatia entre psicólogos, terapeutas,
fonoaudiólogos e outros. Vertentes que atuam de forma semelhante, como Programa
Floortime, começam a surgir no país. E o Protocolo DAN! e seus derivados abrem
caminhos promissores e somam-se no conhecimento dos profissionais da área da
saúde.
Antes de viajar para os EUA no ano anterior eu já havia lido
sobre o Protocolo DAN! É a sigla de Defeat
Autism Now!, ou Vença o Autismo Agora! É um protocolo biomédico originado
pelo Dr. Bernard Rimland (mais um pai de pessoa com autismo), baseado em uma
série de elementos que tratam do organismo metabolicamente atuando em diversas
funções orgânicas do corpo. No caso dos indivíduos com autismo, esse protocolo
tenta corrigir os danos, imunológicos neurológicos e nutricionais (metabólicos
de maneira geral) causados por uma má digestão e má absorção intestinal dos
alimentos. Essa história resulta nas inflamações intestinais e nas carências
nutricionais de vitaminas, minerais, aminoácidos e ácidos graxos e também na
falta específica de nutrientes para o cérebro. Como se não bastasse o pobre
cérebro sofre sérios abusos causados por metais pesados, toxinas e diversas
porcarias que entram no corpo sensível das pessoas do espectro. Então é ainda
adicionado ao protocolo os quelantes, as enzimas, os anti-oxidantes, os
neurolipídios, etc. Nem sei se explico aqui a causa e efeito corretamente
porque há de se ter um poder de síntese e de memória muito grande para
conseguir falar sobre protocolo biomédico em um parágrafo.
Olha, o corpo dos meninos padece com essa desorganização
metabólica intensa, fica tudo esquisito na vida deles. É muita sensibilidade, e
em muitos casos pode-se justificar as alterações comportamentais que eles
apresentam.
Mas como tudo no autismo, nem todas as pessoas identificam
os sintomas de seus filhos pautados nas justificativas metabólicas. Conheço
pessoas que fizeram um trabalho nessa parte com suas crianças de altíssima
qualidade. Não tiveram resultados. E quando abandonaram o tratamento, os filhos
continuaram os mesmos, sem alterações. Essas crianças tiveram mais respostas
com outras abordagens terapêuticas, por exemplo, constelações familiares do que
com protocolos biológicos. Vai entender não é?
Mas deixem-me contar uma coisa para vocês. Antes de o
Lorenzo nascer eu já conhecia um movimento muito interessante chamado Nourishing Traditions. Tratava-se de um
retorno as tradições alimentares de nossos avós, ou seja, época que os
alimentos eram mais puros e saudáveis. Não havia contaminação e nem
industrialização alimentícia excessiva, não existia agrotóxicos, a vaca não era
bombardeada de antibióticos, o leite consumido era o leite cru, ninguém sabia
que raios de história era essa de rinite alérgica, doença celíaca, diabetes,
gordura trans, glutamato monossódico, miojo...Então a idéia é tentar retomar o
máximo possível a alimentação da tradição de nossos antepassados. Existe uma
fundação chamada Weston A. Price
Foundation, sediada em Washington, DC, que divulga todo esse movimento e
oferece um monte de dados e todo tipo de material para quem quiser se
aprofundar no assunto. Eu achei interessantíssimo e me aprofundei, só não
deixei de ser vegetariana.
E foi o seguinte, quando veio toda essa questão de protocolo
biológico o primeiro contato que eu fiz foi com essa fundação. Na minha
concepção essa alimentação mais pura era o que poderia ajudar o Lorenzo. E até
que eu estava certa no que se referia ao meu filho.
As mães do Rio de Janeiro se organizaram e convidaram para
um seminário em Niterói uma mãe que residia na Califórnia que era conhecida por
haver revertido o autismo de dois filhos. Era Andrea Lalama, de origem
equatoriana e titulada homeopata. Ela havia montado uma espécie de protocolo
para se tratar o autismo baseado nas experiências e estudos pessoais dela com o
Protocolo DAN!, e dentro desses estudos incluía os princípios da Weston A. Price Foundation. Foi o que me
chamou a atenção e resolvi ir até Niterói para ouvir mais o que ela tinha para
passar. Fomos eu e a Luzanira.
Que legal estar em Niterói conhecendo finalmente aquela
turma de batalhadores, era a Eloah, a Berê, a Cláudia Marcelino, tinha ainda a
Josélia, a Alessandra, as gêmeas Karla e Luiza Coelho que apareceram lá também,
haja parágrafos para citar todas as aquelas pessoas maravilhosas. Pois bem,
ouvimos a Andrea Lalama com suas idéias ousadas, inteligentes e atrativas. Na
verdade ela pegava um pouco de cada teoria, falava muito de Medicina Natural,
enfim era um discurso interessante e que valia a pena tentar.
Quando retornei a Brasília comecei o tratamento biológico
inspirado no seminário da Andrea só que dentro dos meus moldes de adaptação. O
suco verde do Lorenzo foi adaptado para sopa de feijão batida com folhas
verdes. Minha argila era uma argila de rocha que consegui com um padre
fitoterapeuta, o padre Durval. Meu quelante era o sal amargo e a tintura de
coentro. Adotei a alimentação totalmente orgânica e isenta de glúten, caseína
(só foi isenta de caseína porque eu não consegui um leite cru de confiança),
milho, soja e evidentemente de açúcar branco, corantes e conservantes. Consegui
um farmacêutico que conseguiu fazer para mim uma fórmula bem legal de
probióticos, não ficava devendo nem um pouquinho para aquela ótima que só tinha
na Alemanha.
Não foi tão difícil iniciar a alimentação diferente. O difícil
era encontrar uma boa variedade de alimentos orgânicos. A gente também
precisava fazer a parte externa do tratamento, que era usar produtos de higiene
o mais natural possível sem aqueles ingredientes agressivos, sem os parabenos
(optei pelos produtos da marca Weleda). Na casa, para limpeza, usávamos água
com vinagre e bicarbonato de sódio. Isso teve a ver com eliminar fenóis. Não usávamos mais perfumes (os fixadores são
bastante tóxicos), eliminamos as fontes de alumínio (minhas panelas de inox
custaram tão caras que a Caixa Econômica poderia aceitá-las no esquema de
penhoras), as pulgas e carrapatos do Juca eram eliminados com repelentes
naturais e sistema de coleta manual. E fiquei craque em eliminar (uiii) baratas
com jatinhos de álcool.
Duas semanas depois que iniciamos esse processo, a empresa
das fraldas PomPom (tamanho XXXXG, as únicas que ainda serviam no Lorenzo)
deixou de ver a cor do meu dinheiro. Meu rapaz finalmente aprendeu a usar o
vaso. Aprendeu tudo e ainda amava cada
descarga que ele dava depois.
Não mencionei mais sobre a fala dele, mas já há alguns meses
ele estava com muita ecolalia. E então ele passou a usar um pouco menos da
ecolalia e a falar mais palavras dentro do contexto correto. Passou a ser bem
mais fácil de trabalhar com ele outras técnicas, como o próprio Programa
Son-Rise. Ele deixou de escalar as
janelas e móveis, parou mais de babar, diminuiu as constantes corridas de um
lado para outro, o rostinho parou de ficar muito vermelho, ele estava mudando
bastante, para melhor, é claro!
Eu não quis entrar na onda dos tratamentos intravenosos, das
megadoses de vitaminas, daquele monte de enzimas e anti-oxidantes (como a tão
usada gluthationa) e de todas aquelas outras benevolências em cápsulas ou
comprimidos. Primeiro porque fazer tudo seria demais para os meus bolsos.
Segundo porque boa parte do que a gente precisava tinha que vir dos Estados
Unidos, se pedíssemos pela internet a ANVISA barrava e a gente tinha que pagar
uma fortuna de impostos caso eles liberassem o produto. Eu achei isso muito
estressante, não só para mim que teria que me envolver em um desgaste
psicológico e financeiro, mas principalmente para o Lorenzo que teria que
engolir todas essas coisas. Para a gente já estava bom daquele jeito.
Acrescentávamos nossas técnicas terapêuticas e pronto. Vez ou outra optávamos
por uma fórmula da fitoterapia energética chinesa, a vida nos agraciou por ter
um grande amigo entendido no assunto, que é o Paulo Américo. E o Lorenzo continuava muito feliz e
tranqüilo.
Mariana veio visitar a gente, não precisa nem dizer o quanto
adoramos as visitas dela. A Mari não é especial na nossa vida só por causa do
Son-Rise. Ela tem um jeito encantado de interpretar o Lorenzo e de interagir
com ele, parece uma fada que tem acesso aos portais do mundo paralelo do meu
filho, e isso vem da natureza dela. É sempre uma riqueza tê-la conosco.
E chegou a época do segundo workshop do Programa Son-Rise.
Dessa vez só com o professor Sean e a Mariana. Foi mais divertido ainda que o
primeiro. Quanta gente legal esteve aqui em Brasília conosco, não vou nem
mencionar os nomes porque vai ser injusto com os nomes que certamente vou
esquecer-me de mencionar. Mas considero esse workshop o marco inicial de todos
os workshops da Inspirados Pelo Autismo que se seguiram pelo Brasil e nunca
mais deixaram de acontecer.
Muita gratidão à querida Mariana!
SEIS ANOS DE IDADE
Esse não foi um aniversário com festa, mas foi um dia com
momentos de brincadeiras com o amigo Sean. Festa melhor não poderia ter.
Lorenzo passou meio apurado no dia que caiu de uma moto
infantil e quebrou o braço. Foi sua primeira ida ao hospital na vida. Ele ficou
assustado com a dor, com toda a maquinaria hospitalar, mas foi muito
cooperativo com tudo. No final ele estava todo admirado com aquele gesso em seu
braço. Esse episódio deixou bem claro como ele estava muito mais equilibrado
emocionalmente.
Era muito bom ver o Lorenzo falando mais, sua fala era bem
mais compreensível para as outras pessoas. Ele aceitava bem e gostava de estar
com outras crianças e se sentia a vontade quando estava nos ambientes externos
que antes eram bem difíceis para ele administrar. Ele mostrava muito mais
compreensão com o mundo a sua volta.
O programa dele já não era mais restrito a um quarto de
brincar, ele já conseguia aprender as coisas e interagir com as pessoas em
outros ambientes.
O sorriso do rapazinho ganhou janelas bem charmosas. Achei
que quando chegasse a época da troca de dentes ele iria ter dificuldades, mas
que nada, ele tirou de letra.
O menino Lorenzo estava em uma fase muito interessante. Foi
inclusive nessa época que ele começou um processo maior de ligação com seu
irmão Arthur. É claro que ele sempre se importou com o irmão, mas a interação
entre os dois deu uma boa crescida. O aumento das conexões do Lorenzo facilitou
para que o Arthur o compreendesse mais. Diferente de antes, Lorenzo agora
puxava o irmão mais vezes para brincar com ele.
Eu e a Lu estávamos bem empolgadas com o tratamento
biológico. Foi um período de muitas atividades. Junto com outras mães fizemos
cursos de alimentação natural, fazíamos mutirão da busca de produtos orgânicos,
éramos incansáveis.
Um dia deu na nossa telha de trazer a Andrea Lalama para
Brasília para dar continuidade ao assunto que vimos em Niterói. Deu um trabalho
imenso, mas trouxemos a moça. Foi legal, fizemos um workshop, e depois dos
eventos, fizemos uma peregrinação pela cidade. Queríamos saber o que havia
disponível nas farmácias naturais que poderia ser usado para ajudar as
crianças, fomos parar até em uma tribo indígena para conversar com um pajé.
Nossa intenção era conhecer os recursos fitoterápicos da tribo. No mínimo nos
divertimos muito apesar de não termos encontrado tantas novidades assim.
Meu garoto entrou no auge da fase de querer abraçar e
cheirar mulheres bonitas. Ele não podia ver uma moça bonita de cabelos longos
que ele corria e ia abraçar. Algumas vezes ele fez isso com pessoas
desconhecidas, mas quando explicávamos para elas o que acontecia elas adoravam.
Em todos os aspectos o pulsar que movimentava a valorização
do autismo só crescia. Em São Paulo a Dra. Simone Pires se destacava ainda mais
como médica DAN! (a primeira do Brasil) auxiliando muitas crianças brasileiras.
No Rio o Dr. Eduardo Almeida se engajou mais ainda na causa para tentar ajudar
as crianças dentro de seus atendimentos como médico ortomolecular. Berenice
Piana já liderava um grande movimento político em busca da aprovação do projeto
de lei que beneficiava os indivíduos com autismo. E simultâneamente foram
surgindo novos seminários, novas adaptações do que já existia, realmente era o
início de uma realidade diferente.
A turma das incansáveis resolveu se unir mais uma vez para
fazer uma conferência internacional sobre autismo. Vieram a Brasília a Andrea
Lalama, o Dr. Eduardo Almeida, o Dr. Lee Cowden, o Dr. Boyd Haley e o Dr.
Michael Williamsom. Mais uma vez tivemos oportunidade de ouvir experiências
diferentes e enriquecedoras dentro do assunto.
E eu acabei indo para Floripa ajudar a Mariana em mais um
adorável workshop da Inspirados.
SETE ANOS DE IDADE
Nada de festas, mas sim uma grande comemoração por ele ter
retornado ao ambiente escolar. Lorenzo voltou para a escola no dia de seu
aniversário. E por lá se adaptou bem.
O garotinho estava ótimo. Ele era capaz de expressar suas
vontades verbalmente, com a fala ainda limitada, podia dizer tudo o que queria.
Passou a demonstrar que compreendia tudo o que era dito a ele e assim executava
várias tarefas diferentes sempre que pedíamos. Ele não estava livre do autismo,
aliás, estava ainda longe da imagem perfeita da criança típica. Mas ele estava
perfeito para nós em sua nova fase interativa.
Ele resolveu virar bilíngüe. Quer saber como fala tudo em
inglês, adora traduzir as coisas do português para o inglês e pede nossa ajuda.
O duro é quando ele quer traduzir músicas do Caetano Veloso.
Ganhou uma bicicleta cross toda cheia de estilo, na qual
adaptamos rodinhas. Ele já tinha uma noção ótima de direção (antes ele quando
conseguia pedalar um triciclo batia na parede), mas seus movimentos eram lentos,
o que não lhe permitia ainda pedalar com velocidade suficiente para se
equilibrar em uma bicicleta sem rodinhas.
Foi uma grande surpresa vê-lo se adaptar a escola. Ele
adquiriu um grande equilíbrio para lidar com os barulhos, não sofria mais com
eles. Aceitava o contato dos coleguinhas e aceitava ficar sentadinho em sua
sala de aula executando suas tarefinhas. Mas o Lorenzo tem alma revolucionária
e ser padronizado não é com ele. Nem todos os dias ele tinha essa vontade de
realizar as atividades em sala de aula, mas nosso objetivo a princípio não era
torná-lo academicamente apto. Queríamos dar a ele a oportunidade de conviver
com crianças de sua idade dentro de um contexto social escolar.
Escolhemos a Escola Franciscana Fátima porque, pode-se dizer
que era a única na cidade que tinha um sistema de inclusão levado mais a sério.
Lorenzo foi acolhido com muito carinho por todos, inclusive pelas crianças que
o adoravam.
Ele sabia ler, mas escrever com a mãozinha ele não
conseguia. Só conseguia digitar em teclados, mas não chegamos a usar esse tipo
de recurso na escola.
Foi nessa fase que iniciamos o tratamento mais
constitucional com a homeopatia com a orientação do Dr. Javier Salvador
Gamarra. Fomos até Curitiba para que ele fizesse a avaliação do Lorenzo. Ele
foi muito otimista com relação ao nosso filho, e suas orientações homeopáticas
deram muito certo para ele.
Na escola ele não tinha muito contato com a música. Só nas
aulas de capoeira que ele exibia seus dotes musicais. Sempre tocava o pandeiro
e o berimbau para conduzir a aula junto com o professor Alex. Ele havia parado
uns tempos de ir à musicoterapia por causa da demanda da escola. Mas tínhamos
que dar um jeito, Lorenzo já mostrava sinais de tédio e cansaço por estar mais
afastado da música. Colocamos o menino de volta na musicoterapia, de onde ele
nunca deveria ter saído. O ânimo voltou.
OITO ANOS DE IDADE
Teve festa na escola! Lorenzo comemorou seu aniversário
junto com seus coleguinhas de classe. Foi tão divertido que a escola cedeu mais
tempo para as crianças brincarem.
Essa é a nossa fase atual.
As mães incansáveis deram uma cansadinha, quietaram o facho
e pararam de correr atrás de organizar eventos. Também tudo já caminha sozinho,
as sementes que foram plantadas já dão seus frutos fartos.
O Lorenzo continua se saindo bem em tudo, do jeitinho dele.
Ele já consegue escrever com a mãozinha, uma letra grande e meio desajeitada,
mas é letra de gente inteligente.
Sua fala melhorou muito. Ele acabou de me passar um recado:
“Acabou o leite, tem que comprar!” Mas ainda se perde no meio de suas
repetições e de suas misteriosas iniciativas de fazer coisas muitas e muitas
vezes, tudo igual.
Mas já aprendemos a entender as fases necessárias do
Lorenzo. Por algum motivo ele precisa passar por elas, ele precisa ver o
ventilador girar, ele precisa ver a água do vaso indo embora após dar descarga,
ele precisa ouvir um trecho da música vinte vezes, ele precisa cantar a música
do Michael Jackson mais quinze vezes. Tem hora que a gente fala: “Ô Lorenzo,
chega né!” E ele para, mas quer atenção, quer a gente ali com ele brincando. Ou
seja, ele só entra no mundo das repetições quando não estamos com ele fazendo
alguma coisa.
Ele agora está no terceiro ano do ensino fundamental. Cheio
de habilidades e de dificuldades ao mesmo tempo. E está muito feliz porque
agora tem um professor de música na escola que enche ele de atenção.
Seu grande desafio tem sido os movimentos físicos com mais
agilidade. Ainda precisa de rodinhas na bicicleta. Ainda não consegue
arremessar uma bola com força e nem segura a bola quando é arremessada para ele
com mais força. Mas já está na pauta um esquema de atividades físicas que ele
vai adorar. Ele vai ficar craque logo.
Meu filho é um menino bom, tranqüilo, amoroso, alegre,
espiritualizado e muito companheiro da gente.
Eu teria muita coisa para contar do Lorenzo aqui. Mas eu
preciso contar somente o fato principal: nós amamos o Lorenzo exatamente como
ele é. A cada dia nós tentamos ajudá-lo da maneira que conseguimos, queremos
ajudá-lo a estar preparado para um mundo que não é preparado para ele. Mas não
precisamos ver nosso filho naquela vitrine das “crianças recuperadas do
autismo”. Não exigimos isso dele, porque independente de qualquer tipo de
recuperação ele é uma pessoa plena, perfeita e harmoniosa aos nossos olhos.
Como poderíamos ousar a querer curar nosso filho de sua própria personalidade?
Nós queremos sim que ele manifeste a essência de sua vida e que siga o caminho
destinado a ele pelo Poder Divino. Queremos que ele compreenda tudo aquilo que
gostaríamos de ensiná-lo.
E a cada dia ele mostra que é capaz, nos surpreende tantas
vezes com novas conquistas. Nós realmente acreditamos nele. Acreditamos que ele
vai superar tudo que o impede de realizar uma conexão mais consistente com o
mundo a sua volta. Confiamos na luz de seu interior. Somos tão gratos e felizes
por ter essa criança iluminada em nossas vidas. Ele nos faz pessoas melhores a
cada dia.
O Lorenzo brilha! Ele é feliz.